16 - AGORA É COM VOCÊ!

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Pois bem: o sapato a ser usado como pontapé inicial do seu projeto de solado já está em mãos, o prazo já foi combinado com o cliente (para ontem, é claro), e você já sabe de qual matéria-prima será o solado, bora desenhar? Só mais uma coisinha: vou aproveitar a oportunidade para comentar o que penso daquilo que chamam por aí de inspiração, epifania, sacada. Olha, não espere se sentir “inspirado” para realizar seu desenho. O que eu pude perceber ao longo dos anos, é que existe em determinados momentos uma sensação de extremo prazer e felicidade no momento em que estamos desenhando e tudo parece se encaixar, os traços parecem sair sozinhos e sem esforço da lapiseira. Sim, isso existe. Agora, acreditar que essa é a regra, que sempre acontece assim, aí é ilusão. Digamos que você ainda não tem em mãos algum projeto para criar. A sugestão que dou é simples: dentre os calçados que você possui, separe um tempo para decifrar como ele é feito, quais partes compõem seu solado, se recon

12 - DICAS DE NEGOCIAÇÃO



Esta parte do conteúdo é para aquele momento onde você já leu toda a parte teórica, fez os exercícios, divulgou seu trabalho e finalmente chegou aquele momento espetacular onde você foi convocado a uma reunião para o briefing de seu primeiro projeto.
Não se espante se ao chegar no local, a secretaria estiver com o sapato-modelo em mãos para te entregar com o recado de que se você tiver alguma dúvida, entre em contato com o Sr. Cliente. Nem deu tempo de você chegar direito e já está indo embora. E agora? Não combinamos preço, prazo, tipo de apresentação, nada! Sem medo de errar, a esmagadora maioria das minhas “reuniões” para buscar projetos a desenhar eram exatamente deste jeito que descrevi. Aí eu voltava para o estúdio super preocupado com tantas perguntas não respondidas, ficava com medo de incomodar o Sr. Cliente e ele mudar de ideia e dar o projeto para outro fazer, e acabava repassando mentalmente as conversas prévias com o cliente antes de finalmente ir lá buscar o modelo ou fôrma e a partir destes fragmentos eu tentava decifrar o que ele poderia estar esperando como proposta de produto.
Sofri muito tempo até desenvolver autoconfiança para fazer perguntas. Achava que não poderia ficar demonstrando ter dúvidas, que era sinal de despreparo. Evidente que existem perguntas que não mais cabem no ponto de estar profissionalmente trabalhando como desenhista de solados, mas por outro lado, quanto mais informações você possuir sobre aquilo que deve desenvolver, menor o risco de investir valioso tempo em uma direção equivocada, certo? Bom, então como eu resolvi essa parada? Eu chegava no estúdio, relaxava, enchia um copo com uma Coca bem gelada, pegava o modelo e ia elaborando as perguntas que o projeto me trazia.
Basicamente eu conversava com o produto a respeito daquilo que ele deveria vir a ser através de meus traços e ia anotando as perguntas. Se ficassem muitas, eu revisava para ver se não havia perguntas repetidas com palavras diferentes, comparava com o modelo de briefing e finalmente, formulava um e-mail para o Sr. Cliente. Sim, e-mail. Dependendo de sua data de nascimento, eu reconheço que talvez você nunca tenha precisado enviar nenhum e-mail na vida, tudo se resolveu via mensagens curtas de WhatsApp e emojis.
Pois é, o e-mail é uma ferramenta muito importante para você neste tipo de trabalho. Ali ficam registradas todas as etapas de uma negociação, e caso você perca seu celular, é acessível via qualquer dispositivo.
Enfim, vamos ao que tratar nessa mensagem por e-mail, além, claro das dúvidas. Você vai se apresentar, usar o bom dia, tarde ou noite, dependendo do horário que envia o e-mail.
Comece agradecendo a oportunidade de realizar aquele trabalho para a empresa dele, que está muito animado para começar, porém existem pequenos detalhes que são importantes de se abordar neste ponto.
Enumere as perguntas, explicando que tais informações são imprescindíveis para um bom design de projeto e que entende a correria do dia a dia que impossibilitou o encontro entre vocês onde tais questões seriam apresentadas.
Por fim, aborde a questão financeira, apresentando sua forma de trabalho e se de repente alguma adaptação será necessária para aquele novo cliente.
Eu particularmente sugiro que você SEMPRE cobre um percentual de seu preço de projeto para significar o aceite dos termos propostos e marcar o início do prazo de entrega a ser contado a partir deste pagamento inicial. Isso serve para livrar você daqueles desenhos sem propósito, onde quem chamou você para desenhar nem tem certeza se vai ou não levar o projeto adiante, mas como pensa que “desenho é baratinho”, quando você for tentar receber, vai ter dor de cabeça.
Sobre quanto irá cobrar, faça uma pesquisa de mercado sobre os valores praticados pelos outros profissionais, tente acesso a alguns trabalhos que eles fizeram para você se inteirar do nível técnico, tipo de apresentação, quantidade de opções oferecidas, etc. Para elaborar o seu preço de desenho, leve em conta os fatores de custo que você tem para trabalhar, uso de material, tempo gasto por projeto, internet, e sua parcela.
Você vai ver que existem projetos que não se pagam, mas colocam você em um contexto onde outros trabalhos de sua expertise serão servidos e isso faz valer a pena, assim como também projetos super bem remunerados que por alguma razão particular você preferia não ter feito, a energia não era boa.
O que quero dizer com isso: DINHEIRO NÃO É TUDO. Sim, eu sei, parece meio arrogante dizer isso. Mas é a verdade. Em seu caminho profissional, busque participar de projetos que tenham significado para você para além da remuneração, projetos que vão servir de degrau para um nível acima. Nem sempre isso será possível e tudo bem, mas, sempre tente identificar e perseguir estas oportunidades, participar destes projetos.
Ao começar um processo criativo, não se poupe. Entregue-se, entregue seu melhor, faça o que de melhor estiver em seu alcance.  Lembre-se que aquilo que você entrega é aquilo que você recebe. Aquilo que você planta, você colhe. Se você fizer um trabalho bem feito, está semeando coisas boas.  Não coloque porções de merda na esteira cíclica da vida, isso VAI VOLTAR PARA VOCÊ. (Essa e muitas outras vieram do mestre Jota).  

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