16 - AGORA É COM VOCÊ!

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Pois bem: o sapato a ser usado como pontapé inicial do seu projeto de solado já está em mãos, o prazo já foi combinado com o cliente (para ontem, é claro), e você já sabe de qual matéria-prima será o solado, bora desenhar? Só mais uma coisinha: vou aproveitar a oportunidade para comentar o que penso daquilo que chamam por aí de inspiração, epifania, sacada. Olha, não espere se sentir “inspirado” para realizar seu desenho. O que eu pude perceber ao longo dos anos, é que existe em determinados momentos uma sensação de extremo prazer e felicidade no momento em que estamos desenhando e tudo parece se encaixar, os traços parecem sair sozinhos e sem esforço da lapiseira. Sim, isso existe. Agora, acreditar que essa é a regra, que sempre acontece assim, aí é ilusão. Digamos que você ainda não tem em mãos algum projeto para criar. A sugestão que dou é simples: dentre os calçados que você possui, separe um tempo para decifrar como ele é feito, quais partes compõem seu solado, se recon...

06 - TIPOS DE MATÉRIA-PRIMA



Abordando a questão da matéria-prima do solado, temos hoje muitas opções, até mesmo resina que imprime o calçado inteiro via impressora 3d. Portanto, esta não é uma enciclopédia sobre matéria-prima para solados, não tenho o objetivo nem intenção de esgotar o assunto, mas devo enumerar os tipos mais comuns que encontrei durante meus projetos e ainda vejo nas vitrines e pés das pessoas.
- Sola de TR – Thermoplastic Rubber – borracha termoplástica ou borracha injetada. Significa o termo “termoplástico” que mediante aplicação de calor, este material se permite moldar, derreter e colocar em formas que se deseja que determinem seu formato. A matriz é posicionada dentro de uma máquina injetora, que derrete o TR previamente para injetar na matriz. Sobra-se pouca rebarba para acabamento do solado. Estes retalhos podem ser recolhidos e reencaminhados para uso, pois se a cor não for alterada, ele pode ser reutilizado desde o processo de derretimento. Possui muita flexibilidade de uso, nos calçados tipo “Sapatênis” é quase uma regra de uso. Não tem muita durabilidade no sentido de desgaste, abrasão. É uma sola que terá seu desenho gasto pelo uso diário, mesmo que se ande pouco com ele. Tomar muito cuidado perto de solventes, pois podem desmanchar o solado.
- Sola de Borracha – o solado de borracha possui um cheiro característico forte de enxofre e pode até causar náuseas, dependendo dos casos. É um solado que é obtido através também do calor intenso, porém ele não derrete flui como o TR, a borracha crua é cortada em tamanhos específicos e posicionada dentro da matriz de alumínio ou aço. Quando a matriz se fecha, a tampa e corpo da matriz se fecham, deixando apenas poucos lugares por onde a borracha crua vai sendo empurrada pela pressão do fechamento. Uma vez que a tampa da matriz se fechou, existe o tempo de cozimento que varia pela quantidade de massa utilizada. A matriz é aberta ao final e a sola retirada e encaminhada ao acabamento. Seus resíduos de rebarbas não possuem reuso difundido aplicado. Esta é a diferença entre a borracha que é “termorrígida” e o “termoplástico”. O termorrígido depois de passar pelo processo de vulcanização (cozimento) não volta mais ao estado de reuso, como ocorre como TR. A borracha tem mais durabilidade ao desgaste, é mais resistente como material em si e é um material nobre. Claro que existem TR’s hoje que são caríssimos e tem performance espetacular, porém é justamente o preço dele que inviabiliza o uso. Então usa-se o TR mais comum mesmo, sem tanta resistência.
- Sola de Couro – muito utilizada em calçados sociais e clássicos, o solado de couro é considerado muito nobre e possui suas particularidades. Os calçados que o utilizam são geralmente clássicos e caros, simbolizando bom gosto. Muitas vezes se copia o visual de um solado em couro para através da pintura, alterar o visual da borracha ou TR para ficar bem parecido com o solado de couro real.
- Sola de Poliuretano (PU) – solado com característica de leveza, durabilidade e boa resistência a abrasão. Muito utilizado em calçados que precisam atingir determinada performance. Pode ser utilizado somente com 01 densidade, com 02 densidades e também unido a borracha. É uma matéria-prima de apresentação líquida e uso entre 40 e 60 graus célsius. Significa dizer que o líquido fica em um reservatório e através de mangueiras se injeta o líquido em matrizes que pode estar aberta ou fechada.
- Sola em PU+SBR: PU com borracha, geralmente utilizado quando se deseja leveza e aderência do solado e então ele pode ser quase todo feito em Poliuretano, e a Borracha aplicada a pontos específicos, geralmente nas partes que tocam o solo para aderência e resistência. Tipo de solado com bastante ocorrência em tênis esportivos e estilo “Outdoor”.
- Sola em PU Bidensidade: é o solado com 2 densidades de solados, onde se trabalha a diferença de densidade (dureza) do material PU, sendo um mais macio nas áreas de absorção de impactos da pisada e na parte inferior e detalhes laterais o PU com maior dureza.
- Sola em TPU: o material PU é extremamente versátil e possui uma versão termoplástica, chamada de TPU. Ela combina leveza com muita rigidez estrutural, podendo ser utilizado na totalidade do solado, por exemplo em chuteiras de futebol ou em partes específicas de solados complexos, por exemplo como chassi de estabilidade dos solados da marca Mizuno.
- Sola em PVC: é a sigla de Policloreto de Vinila (PolyVinyl Chloride, em inglês). É um tipo de plástico extremamente versátil e muito usado para milhares de aplicações, inclusive solados. É possível controlar a fórmula para alterar a dureza e abrasão, é um material de baixo custo e tende a amolecer em ambiente de altas temperaturas.
- Sola em E.V.A. (Etil Vinil Acetato): é um solado levíssimo, também com baixa resistência ao desgaste, e que em alguns casos recebe pequenos insertos de Borracha para ajudar tanto na aderência quanto no desgaste. Muito utilizado em tênis do tipo corrida, mas também por sua leveza existe uma linha de produtos de segurança que estão trabalhando com essa matéria-prima. Existe também o modo de confecção de solados e calçados em EVA que se expande após ser retirado da matriz. Deste modo, previamente se faz o cálculo de expansão na fórmula química utilizada e as matrizes são de tamanho reduzido, pois depois de injetado o EVA, a sola começará a expandir até suas dimensões finais.
- Sola Pré-frezada:  é o solado que pode variar em sua matéria de composição, porém a característica principal deste solado é que ele é construído manualmente, mesclando técnicas tradicionais antigas e novas. Geralmente é o um dos solados de mais alto custo por par, devido à sua construção artesanal. Pode ser tanto um solado social de couro quanto um solado esportivo de cunho de EVA colado em um tapete de TR. Enfim, a cada dia surgem novos materiais e tecnologias que fariam essa lista muito maior, porém, ainda se tratando da maioria dos calçados produzidos, esta lista cobre a maior parte deles. E sim, cabe a você estar ligado e aprender sobre os novos produtos e aumentar esta lista de materiais conhecidos para oferecer um trabalho competente.
Um detalhe técnico sobre o qual não abordaremos por tratar-se especificamente de área técnica, que é a questão da contração do material escolhido para o solado e matrizes. Mesmo a matriz terá índices específicos de contração devido ao tipo de liga metálica de sua confecção. Por exemplo, se for matriz de alumínio, a contração dele depois de fundido é de 0,5%. Se o solado for de PVC, este varia de 0,3 a 2% de contração, dependendo do fabricante e de outros fatores. Digamos que será considerado o índice de 2% de contração. Assim, temos um total de 0,5 + 2,0% = 2,5%. Isto significa que seu desenho de solado, ao ser trabalhado no desenho técnico para confecção do molde, será aumentado em 2,5% em todas as suas dimensões.
Ainda existe a questão da maquetaria, que pode transformar seu desenho em uma maquete VISUAL ou TÉCNICA. As maquetes podem ser construídas via impressoras 3d, tornos de CNC ou até mesmo artesanalmente. Se ela for VISUAL, será pintada nas cores finais do solado, simulando o máximo possível o produto final e inclusive se pode encaixar o cabedal (corpo do calçado sem sola) na maquete para fotos, verificações visuais, etc. Se for uma maquete TÉCNICA, ela terá as dimensões maiores devido a contração prevista e não é possível encaixar o cabedal pois ela é fechada em bloco, para a fundição.
Por fim, já que falamos um pouco sobre as matrizes, existem muitas formas de se construir matrizes. Pode ser via usinagem direta, fundição, eletro-erosão, CNC, modos mistos, enfim, muitas formas. Cada uma destas formas de construção de molde possui suas características específicas e a escolha de uma delas vai ter a ver com o tipo de desenho que você fez, as linhas do perfil, detalhes dos desenhos do fundo, etc. Mas nosso objetivo neste curso é focar no seu aprendizado em DESENHAR o solado, e claro, uma vez que você comece a se familiarizar com o assunto, verá que estes detalhes começarão a fazer sentido para você e não serão motivo de tensão, muito pelo contrário: muitas foram as vezes em que devido a uma impossibilidade técnica do processo de construção do molde, aprendi novos caminhos e modos de apresentar a minha arte, por ter tido o privilégio de aprender com o técnico da matrizaria.  

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