Abordando a questão da matéria-prima do solado, temos hoje muitas
opções, até mesmo resina que imprime o calçado inteiro via impressora 3d. Portanto,
esta não é uma enciclopédia sobre matéria-prima para solados, não tenho o
objetivo nem intenção de esgotar o assunto, mas devo enumerar os tipos mais
comuns que encontrei durante meus projetos e ainda vejo nas vitrines e pés das
pessoas.
- Sola de TR – Thermoplastic Rubber – borracha
termoplástica ou borracha injetada. Significa o termo “termoplástico” que
mediante aplicação de calor, este material se permite moldar, derreter e
colocar em formas que se deseja que determinem seu formato. A matriz é
posicionada dentro de uma máquina injetora, que derrete o TR previamente para
injetar na matriz. Sobra-se pouca rebarba para acabamento do solado. Estes
retalhos podem ser recolhidos e reencaminhados para uso, pois se a cor não for
alterada, ele pode ser reutilizado desde o processo de derretimento. Possui
muita flexibilidade de uso, nos calçados tipo “Sapatênis” é quase uma regra de
uso. Não tem muita durabilidade no sentido de desgaste, abrasão. É uma sola que
terá seu desenho gasto pelo uso diário, mesmo que se ande pouco com ele. Tomar
muito cuidado perto de solventes, pois podem desmanchar o solado.
- Sola de Borracha – o solado de borracha possui um cheiro
característico forte de enxofre e pode até causar náuseas, dependendo dos
casos. É um solado que é obtido através também do calor intenso, porém ele não
derrete flui como o TR, a borracha crua é cortada em tamanhos específicos e
posicionada dentro da matriz de alumínio ou aço. Quando a matriz se fecha, a
tampa e corpo da matriz se fecham, deixando apenas poucos lugares por onde a
borracha crua vai sendo empurrada pela pressão do fechamento. Uma vez que a
tampa da matriz se fechou, existe o tempo de cozimento que varia pela
quantidade de massa utilizada. A matriz é aberta ao final e a sola retirada e encaminhada
ao acabamento. Seus resíduos de rebarbas não possuem reuso difundido aplicado.
Esta é a diferença entre a borracha que é “termorrígida” e o “termoplástico”. O
termorrígido depois de passar pelo processo de vulcanização (cozimento) não
volta mais ao estado de reuso, como ocorre como TR. A borracha tem mais
durabilidade ao desgaste, é mais resistente como material em si e é um material
nobre. Claro
que existem TR’s hoje que são caríssimos e tem performance espetacular, porém é
justamente o preço dele que inviabiliza o uso. Então usa-se o TR mais comum
mesmo, sem tanta resistência.
- Sola de Couro – muito utilizada em calçados sociais e
clássicos, o solado de couro é considerado muito nobre e possui suas
particularidades. Os calçados que o utilizam são geralmente clássicos e caros,
simbolizando bom gosto. Muitas vezes se copia o visual de um solado em couro
para através da pintura, alterar o visual da borracha ou TR para ficar bem
parecido com o solado de couro real.
- Sola de Poliuretano (PU) – solado com característica de
leveza, durabilidade e boa resistência a abrasão. Muito utilizado em calçados
que precisam atingir determinada performance. Pode ser utilizado somente com 01
densidade, com 02 densidades e também unido a borracha. É uma matéria-prima de
apresentação líquida e uso entre 40 e 60 graus célsius. Significa dizer que o
líquido fica em um reservatório e através de mangueiras se injeta o líquido em
matrizes que pode estar aberta ou fechada.
- Sola em PU+SBR: PU com borracha, geralmente utilizado
quando se deseja leveza e aderência do solado e então ele pode ser quase todo
feito em Poliuretano, e a Borracha aplicada a pontos específicos, geralmente
nas partes que tocam o solo para aderência e resistência. Tipo de solado com
bastante ocorrência em tênis esportivos e estilo “Outdoor”.
- Sola em PU Bidensidade: é o solado com 2 densidades de
solados, onde se trabalha a diferença de densidade (dureza) do material PU,
sendo um mais macio nas áreas de absorção de impactos da pisada e na parte
inferior e detalhes laterais o PU com maior dureza.
- Sola em TPU: o material PU é extremamente versátil e
possui uma versão termoplástica, chamada de TPU. Ela combina leveza com muita
rigidez estrutural, podendo ser utilizado na totalidade do solado, por exemplo
em chuteiras de futebol ou em partes específicas de solados complexos, por
exemplo como chassi de estabilidade dos solados da marca Mizuno.
- Sola em PVC: é a sigla de Policloreto de Vinila
(PolyVinyl Chloride, em inglês). É um tipo de plástico extremamente versátil e
muito usado para milhares de aplicações, inclusive solados. É possível
controlar a fórmula para alterar a dureza e abrasão, é um material de baixo
custo e tende a amolecer em ambiente de altas temperaturas.
- Sola em E.V.A. (Etil Vinil Acetato): é um solado
levíssimo, também com baixa resistência ao desgaste, e que em alguns casos
recebe pequenos insertos de Borracha para ajudar tanto na aderência quanto no
desgaste. Muito utilizado em tênis do tipo corrida, mas também por sua leveza
existe uma linha de produtos de segurança que estão trabalhando com essa
matéria-prima. Existe também o modo de confecção de solados e calçados em EVA
que se expande após ser retirado da matriz. Deste modo, previamente se faz o
cálculo de expansão na fórmula química utilizada e as matrizes são de tamanho
reduzido, pois depois de injetado o EVA, a sola começará a expandir até suas
dimensões finais.
- Sola Pré-frezada:
é o solado que pode variar em sua matéria de composição, porém a
característica principal deste solado é que ele é construído manualmente,
mesclando técnicas tradicionais antigas e novas. Geralmente é o um dos solados
de mais alto custo por par, devido à sua construção artesanal. Pode ser tanto
um solado social de couro quanto um solado esportivo de cunho de EVA colado em
um tapete de TR. Enfim, a cada dia surgem novos materiais e
tecnologias que fariam essa lista muito maior, porém, ainda se tratando da
maioria dos calçados produzidos, esta lista cobre a maior parte deles. E sim,
cabe a você estar ligado e aprender sobre os novos produtos e aumentar esta lista
de materiais conhecidos para oferecer um trabalho competente.
Um detalhe técnico sobre o qual não abordaremos por tratar-se
especificamente de área técnica, que é a questão da contração do material
escolhido para o solado e matrizes. Mesmo a matriz terá índices específicos de
contração devido ao tipo de liga metálica de sua confecção. Por exemplo, se for
matriz de alumínio, a contração dele depois de fundido é de 0,5%. Se o solado
for de PVC, este varia de 0,3 a 2% de contração, dependendo do fabricante e de
outros fatores. Digamos que será considerado o índice de 2% de contração.
Assim, temos um total de 0,5 + 2,0% = 2,5%. Isto significa que seu desenho de
solado, ao ser trabalhado no desenho técnico para confecção do molde, será
aumentado em 2,5% em todas as suas dimensões.
Ainda existe a questão da maquetaria, que pode transformar seu
desenho em uma maquete VISUAL ou TÉCNICA. As maquetes podem ser
construídas via impressoras 3d, tornos de CNC ou até mesmo artesanalmente. Se
ela for VISUAL, será pintada nas cores finais do solado, simulando o máximo
possível o produto final e inclusive se pode encaixar o cabedal (corpo do
calçado sem sola) na maquete para fotos, verificações visuais, etc. Se for uma
maquete TÉCNICA, ela terá as dimensões maiores devido a contração prevista e
não é possível encaixar o cabedal pois ela é fechada em bloco, para a fundição.
Por fim, já que falamos um pouco sobre as matrizes, existem muitas
formas de se construir matrizes. Pode ser via usinagem direta, fundição,
eletro-erosão, CNC, modos mistos, enfim, muitas formas. Cada uma destas formas
de construção de molde possui suas características específicas e a escolha de
uma delas vai ter a ver com o tipo de desenho que você fez, as linhas do
perfil, detalhes dos desenhos do fundo, etc. Mas nosso objetivo neste curso é
focar no seu aprendizado em DESENHAR o solado, e claro, uma vez que você comece
a se familiarizar com o assunto, verá que estes detalhes começarão a fazer
sentido para você e não serão motivo de tensão, muito pelo contrário: muitas
foram as vezes em que devido a uma impossibilidade técnica do processo de
construção do molde, aprendi novos caminhos e modos de apresentar a minha arte,
por ter tido o privilégio de aprender com o técnico da matrizaria.
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